domingo, 24 de fevereiro de 2013

POLÍTICA DE COTAS: UM IMPERATIVO!

Via Facebook


EM PAÍS RACISTA, A POLÍTICA DE COTAS É UM IMPERATIVO!
Foto de formatura do primeiro semestre de 2011 da turma de medicina da Universidade Federal da Bahia, Estado da Federação cuja esmagadora maioria da população é composta por afro-descendentes. 
(Imagem foi extraída do Blog do Mario Lobato)

Aos que são contrários às cotas para ingresso nas universidades, eu só peço uma coisa: que ofereçam um bom argumento contra as cotas. Unzinho só. Apenas isso.

Ser contra ou a favor das cotas hoje é a atualização de outro impasse que também dividiu a sociedade brasileira em outros tempos: ser contra ou a favor da abolição da escravidão. Aqueles que hoje se opõem às cotas são os continuadores (mesmo que involuntários ou até mesmo inconscientes) da obra e do pensamento dos que há pouco mais de 150 anos se opuseram à proibição do tráfico negreiro e, posteriormente, à abolição da escravatura. Algum tempo atrás, os contrários à liberdade dos negros falavam assim, conforme relata Sérgio Buarque de Hollanda em Raízes do Brasil: “antes bons negros da costa da África para cultivar os nossos campos férteis do que laranjas a quatro vinténs cada uma...” (pág. 78). Ou seja, melhor os pretos morrerem sob o jugo dos brancos do que os brancos se verem diante do encarecimento dos víveres em decorrência do escasseamento de sua produção.

E hoje, o que dizem os anti-cotas? Será que antigamente, pender entre a liberdade dos negros ou a inconveniência da alta dos preços dos alimentos era só uma questão ideológica? Será que pode se dar a isso o nome de ideologia? Não estamos falando de uma questão ideológica, mas de uma questão moral. Estamos falando de uma reparação de uma dívida histórica. Ser contra essa reparação é negar essa dívida. Negar essa dívida significa legitimar toda a origem desse saldo negativo, isto é, legitimar a própria escravidão e aquilo que dela restou como herança para o nosso país: uma das desigualdades sociais mais indecentes de todo o mundo! Até antes dos programas sócio-afirmativos e de transferência de renda introduzidos pelo governo Lula, o Brasil era o país mais desigual do continente mais desigual do planeta.

A queda da desigualdade, medida pelo Índice de Gini, ganhou rapidez a partir do primeiro mandato de Lula. Entretanto, há ainda um enorme estoque de iniqüidade para ser corrigido. Esta foto de formatura do primeiro semestre de 2011 da turma de medicina da Universidade Federal da Bahia, Estado da Federação cuja esmagadora maioria da população é composta por afro-descendentes grita na nossa cara o quanto as cotas são sumamente imprescindíveis na tentativa de mitigar os efeitos pestilentos da concentração de oportunidades que é resultado da estrutura de poder altamente excludente que se engendrou no Brasil, desde a colonização, e que se foi enraizando na nossa formação sócio-política e cultural, enquanto essa estrutura foi gerida pelos herdeiros da Casa Grande.

Naturalmente, ainda tem gente que queria que continuássemos a dar de ombros para essa situação. Afinal de contas, né, escravidão é coisa do passado... O que têm os branquinhos de hoje com tudo isso? Eu já ouvi até dizerem que discutir cotas “é uma questão ideológica”. Conversa de quem quer se esquivar do debate sério. Uma pessoa que chama a isso de ideologia é uma pessoa que está inventando nomes, eufemismos, para a calhordice moral. Antes eram os preços das laranjas que iam subir. Hoje é o que? A diária de uma doméstica ou de um pedreiro? Para que aumentar as chances de um preto vestir jaleco, né? Isso é muito inconveniente, vai diminuir o número de manicures e cabeleireiras nos salões da grã-finagem. É estarrecedor constatar que pessoas nascidas na segunda metade do século XX ainda conservam o ideário dos que viveram na primeira metade do século XIX.

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