sábado, 28 de abril de 2012

Entrevista com o Prof. Frigotto

Frigotto destaca papel da APP e aponta desafios da educação

Professor encabeçou debate sobre políticas educacionais no Seminário sobre Currículo promovido pela entidade

Prof. Leandro, Prof. Dr. Frigotto e Profª. Sidineiva
(APP, Curitiba, 27/04/2012)

Dando continuidade a celebração dos 65 anos da APP-Sindicato, foi realizado, nesta sexta-feira (27), o Seminário Político Educacional sobre Currículo, que teve o seguinte tema: 'A escola como território de luta e um currículo emancipador'. No período da tarde, os participantes tiveram a oportunidade de ouvir uma palestra, e participar de um debate, com o professor doutor Gaudêncio Frigotto, da Universidade Federal Fluminense (UFF) e Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Ele falou sobre política educacional.
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Em entrevista ao Portal da APP, Frigotto, um dos mais importantes teóricos da educação brasileira, falou sobre a relevância da APP-Sindicato na defesa da educação pública no país. Em uma análise em que mesclou as diversas conjunturas que marcaram os últimos 65 anos, o professor aponta as oportunidades perdidas pelos segmentos da sociedade que acreditam em uma escola emancipadora, bem como indica a atitude que estes mesmos segmentos devem adotar no momento atual. Leia, abaixo, a conversa com o professor Frigotto.
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Portal da APP - Como o senhor avalia a importância de uma entidade como a APP-Sindicato, que acabou de completar 65 anos de atuação?
Gaudêncio Frigotto - 
A história da APP-Sindicato é uma história que sintetiza não só o Paraná, mas especialmente no Paraná, as diferentes conjunturas da sociedade brasileira. As diferentes conjunturas da política educacional, ou um sentido de planejamento mais vasto, de diretrizes mais amplas, mas também da política educacional que chega ao chão da escola.
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Portal da APP - E como acontece isto?
GF -
 Na fala que fiz, tentei demarcar essas fases históricas. A própria APP nasce em um momento em que saímos de um período de 15 anos de ditadura. Foi a ditadura Vargas, com características diferentes da ditadura civil militar de 1964, mas, ainda assim, uma ditadura que engessou a sociedade. Mas, felizmente, no qual a sociedade não estava morta. Logo depois da ditadura, nos regimes que foram se constituindo, mesmo os mais conservadores, a sociedade se moveu. E aí é que se iniciam as campanhas 'De pé no chão também se aprende a ler' e toda a luta da pedagogia para jovens e adultos, da pedagogia do oprimido, como eu disse, é a síntese de um tempo, escrita com grande maestria pela capacidade de Paulo Freire. E o que estava em pauta? A pedagogia do oprimido surge porque somos uma sociedade de latifúndio, e de uma concentração de renda brutal. De uma desigualdade monumental entre quem trabalha e quem vive do trabalho alheio. Então, é uma luta de quem acreditava em um projeto nacional de desenvolvimento de caráter popular e, portanto, uma educação básica como direito social e subjetivo.
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Portal da APP - E este movimento se estendeu até quando?
GF -
 Isto foi até os anos 60. Neste momento, a sociedade brasileira, inclusive no contexto da America Latina, tinha condições de dar um grande salto. Mas é exatamente neste momento que as elites, as classes dominantes do Brasil, chamam a mão armada do Estado e dão um golpe. Tudo isto com o apoio dos setores conservadores da igreja conservadores e de organismos de vigilância e do capital, como a CIA. Passam 20 anos onde, então, foram talhadas as reformas sob os auspícios de que a educação já não era um direito social e subjetivo, mas era um lugar onde as pessoas tinham que adquirir as competências, o capital, para disputar a já instalada a crise do trabalho e emprego que se manifestava. Mas a ditadura não durou. E nós saímos dela, como diz Carlos Nelson Coutinho, com uma sociedade civil mais forte. Tanto que quando saímos da ditadura você tem um sindicalismo mais enérgico. A APP-Sindicato, nos anos 80 do século passado, teve um papel extraordinário no Brasil. A primeira proposta de caráter amplo de um Estado, que invertia o sinal da educação para uma transição democrática - e da discussão do que é uma transição democrática - se fez no Paraná. Só depois em Minas Gerais, com o Congresso Mineiro da Educação. Mas no Paraná este debate teve uma característica mais orgânica.
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Portal da APP - Logo em seguida se instala no país o modelo neoliberal... 
GF - 
Pois é. Veio a década de 90 e o Paraná foi um dos laboratórios mais perversos do neoliberalismo. E o que é o neoliberalismo? É uma pauta econômica, e, sobretudo, uma pauta ideológica e valorativa de convencer corações e mentes de que não há outra alternativa, senão o capitalismo. Na década seguinte, após quatro tentativas feitas por uma base social ampla e muito heterogênea - de movimentos sociais, sindicatos muito diferentes, forças institucionais ligadas a intelectuais - viram que era importante colocar alguém que vinha da memória das lutas sociais. E, justamente, um operário nordestino, alvo de todos os preconceitos. Imaginou-se que ali daríamos um salto. E muita coisa foi, de fato, feita. Mas por razões que precisamos analisar e aprofundar, o salto que deveríamos ter dado, agora, com essa base social, não ocorreu.  E, portanto, as forças que vêm lá da ditadura, e especialmente da ditadura do mercado, que planta essa ideia de que não existe alternativa e que precisamos de uma educação gerencial, de um Estado gerencial, germina e se espraia nos sistemas educacionais e na política do desenvolvimento etc.
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Portal da APP - Após estas oportunidades perdidas, o que pode ser feito?
GF 
- O nosso grande desafio é renascer das cinzas. Hoje, no seminário, me foi colocada uma excelente questão: o que significou a Conae? A Conae foi o possível. E tanto que é assim, que temos lá, no Plano Nacional de Educação, uma pauta interessante. Mas sem os Coneds (Congressos Nacionais de Educação) por trás, sem a organização da sociedade por trás, e com as forças que se despolitizaram e se dividiram muito, então, não temos força para sustentar essa pauta. Precisamos de uma força como a que vocês demonstraram aqui, no Paraná, com o PDE (que não tem nada com o PDE nacional). Vocês o construíram aqui. Disputaram politicamente, transformaram um PDE mercantil em um PDE favorável ao direito dos professores, da carreira docente. Ao direito de uma formação não pingada. Então, agora, precisamos, em primeiro lugar, ter paciência para avaliar, com bastante cuidado, assim como a geração de Florestan Fernandes fez, aonde erramos e por que erramos. E mais: temos a responsabilidade de analisar, para não errar outra vez. Foi um pouco essa a provocação que fiz hoje e creio que seja esta, também, uma pauta importante dos núcleos sindicais, aliás, outra característica fantástica da APP, de se fazer presente todas as regiões do Paraná.














Fonte: texto APP Sindicato/ Fotos: Leandro Ap. Santos

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